Cipó, a comunidade e o contexto da criação do PRECE
Cipó é uma pequena comunidade rural do município de Pentecoste, situada às margens do açude Pereira de Miranda, a 18 (dezoito) km da sede. É Composta por cerca de 20 (vinte) famílias, as quais vivem da agricultura de subsistência, ou seja, cultivam apenas para o consumo da família, o que ocorre geralmente no período chuvoso. Como a maioria dos agricultores não possui terra própria, vivem de trabalho alugado, ou seja, vendem sua força de trabalho para os senhores de terra da região, que pagam pelo dia de serviço prestado. Na estação chuvosa cultivavam milho e feijão nas terras de Antônio Carneiro, maior proprietário da região e ex-prefeito de Pentecoste. É importante dizer que isso já não acontece mais, pois suas terras em razão do seu falecimento tornaram-se inativas. Hoje, em razão da desapropriação dessas terras, Cipó inicia sua trajetória rumo ao assentamento agrário. Atualmente, os agricultores voltam-se para outras atividades como a produção de carvão vegetal e a pesca, praticada no açude Pereira de Miranda e nos demais açudes da região.
Há ainda a prática do artesanato, quase inexistente realizado por donas de casa, como o bordado e a confecção de vassouras, surrões e chapéus, usados na época da colheita do feijão e do milho, todos feitos a partir da palha da carnaúba, árvore abundante na região, conhecida como árvore da vida e símbolo do estado do Ceará. É importante ressaltar que algumas mulheres recorrem a esta prática para complementar a renda da família. A comunidade possui um templo evangélico assistido pela IPI (Igreja Presbiteriana Independente) de Fortaleza e uma pequena escola, onde até 2009 (dois mil e nove) funcionava da pré-escola ao quarto ano.
No ano seguinte, a escola foi fechada por apresentar número insuficiente de alunos para seu funcionamento. Além do prédio sede do Programa de Educação em Células Cooperativas (PRECE). Até 2006 (dois mil e seis), não tinha energia elétrica e até hoje não existe saneamento básico, telefone público, posto de saúde e água encanada, obrigando os moradores a se deslocarem a alguns quilômetros. Pelo que se ver é uma comunidade totalmente desassistida pelo poder público. Sobre isso Martins (2003), afirma que “O espaço brasileiro ao longo de todo o processo histórico, não teve a devida atenção do estado, no sentido de propiciar condições favoráveis aos modos de vida e as condições de vida de sua população”.
Na década de 1990, Cipó inicia sua caminhada em relação ao associativismo, sob a liderança de Adriano Andrade, que reúne os agricultores da região para juntos formarem uma associação comunitária, acreditando na importância desta na aquisição de recursos para desenvolver a comunidade. Surge então a ACOMPARCC (Associação Comunitária dos Agricultores e moradores e Cipó e Capivara). Logo, o trabalho organizativo apresentou resultados, dentre estes destacamos a construção de uma casa de fazer farinha, conseguida junto à secretaria de agricultura, à época do governo de Ciro Gomes.
É muito importante salientar isso, pois fez parte da cultura local, embora tenha ocorrido poucas vezes, na comunidade de Cipó, uma vez que por falta de investimento e apoio técnico, os agricultores foram impossibilitados de dar continuidade ao cultivo da mandioca. Posteriormente, devido à saída de Adriano Andrade da liderança da associação e, como não havia quem se dispusesse a substitui-lo, a ACOMPARCC deixou de atuar.
Com o tempo a casa de farinha que já não servia mais ao propósito com a qual foi construída, serviu de sede para um novo movimento que surgia, agora voltado para a educação, era o PRECE, o qual merece destaque na história da simplória comunidade de Cipó e de seu município, Pentecoste, no sentido de que trouxe esperança e perspectiva para jovens e adultos acomodados que não viam na educação uma forma de mudar de vida, o que é absolutamente compreensível, no que concerne ao contexto educacional rural vigente na época, que se torna evidente a medida em que mostramos dados da educação do município em 1993.
De acordo com estes dados, podemos verificar a quase inexistência de oferta do ensino fundamental completo nas escolas da zona rural. Em 1993 (mil novecentos e noventa e três), das 75 (sententa e cinco) escolas existentes no campo, apenas nove ofereciam algumas das séries do segundo segmento do ensino fundamental e apenas 34 (trinta e quatro) educandos estavam matriculados na última série desse nível de ensino, em um universo de 4.084 (quatro mil e oitenta e quatro) estudantes matriculados nas escolas rurais. Por esse motivo os jovens acabam tendo uma mentalidade equivocada de que estudo não é para pobres, não lhes restando alternativa, senão sair da escola e reproduzirem a vida de seus pais, vendendo a sua força de trabalho para os fazendeiros da região ou ainda irem para as grandes cidades procurar emprego.
Com isto, é de se esperar a repercussão que o surgimento do PRECE teve em todo município, já que à época de sua criação em 1994 ( mil novecentos e noventa e quatro) o número de alunos matriculados no segundo segmento era de apenas 8% (oito por cento) ao passo que 92% (noventa e dois por cento)das matrículas concentravam-se nas séries iniciais (dados da secretaria de educação do município em 2005). No início muitos criticaram, dizendo que isso era coisa de gente doida, que não tinha futuro e que a velha casa de fazer farinha, tinha se tornado um lugar de apoio a vagabundos, os estudantes iniciais também sofreram muito preconceito, pois havia na mentalidade ignorante e tacanha do povo, a idéia de que estudo não é trabalho e, portanto, aqueles que estavam ali não tinham mais o que fazer. Era preciso então, conscientizar as famílias e motivar os jovens. Surgia, assim, em meio a adversidades um movimento educacional, que visava propor aos jovens e adultos que tivesse o propósito de investir em seus estudos, concluir a educação básica e ingressar no ensino universitário.
Com o tempo, alguns resultados, como por exemplo, a aprovação em 1° lugar para o curso de pedagogia da UFC (Universidade Federal do Ceará) de Francisco Antônio Alves Rodrigues serviu de motivação e resposta ao pensamento de que estudante de origem popular não tem condições de ingressar no ensino superior. A partir daí, êxitos sucessivos, levaram outros jovens a se interessarem pelos estudos e passarem, devido a certas circunstâncias, como distância de suas residências, a residirem na casa de fazer farinha.